03.10.2022 Doenças de Pele

Skin Picking: Como lidar com o hábito disfuncional de cutucar a própria pele

Espremer espinhas, tirar cravos do rosto ou coçar os braços: hábitos comuns durante a adolescência podem se tornar patológicos. Estima-se que cerca de 2% da população mundial sofra da doença chamada de transtorno de escoriação (TE), dermatotilomania ou ainda pelo nome em inglês skin picking. Ou seja, cutucar demais a pele de modo crônico ao ponto de causar sofrimento e prejuízos sociais e profissionais. 

Desde 2013, a TE está classificada entre as doenças relacionadas ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) pelo DSM-5, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Apesar de figurar há quase uma década no DSM, ainda há poucos estudos sobre seus sintomas e tratamentos. 

“É uma condição de difícil diagnóstico, que, na maioria das vezes, passa despercebida mesmo por especialistas em saúde”, diz o psiquiatra Lucas Lovato, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul

O paciente que sofre de TE se belisca ou aperta as partes mais acessíveis à mão, como ombros, peito, braços, pernas e rosto. Algumas condições, como a acne, favorecem o cutucar. 

Mas a condição não está associada a doenças da cútis, como dermatites, eczemas ou psoríase. Geralmente, não há problemas subjacentes, e sim uma percepção distorcida sobre imperfeições na pele que levam o indivíduo a se escoriar. 

As lesões levam a repercussões negativas na rotina – e podem deflagrar problemas graves. Estudos descrevem casos de pacientes que precisaram de enxertos devido à profundidade dos machucados. Em um dos casos descritos, uma mulher de 44 anos provocou uma hemorragia grave na face por causa da TE. 

Nessas situações críticas, as pessoas se isolam por vergonha de exibir as escoriações. O mais comum, porém, são os casos leves, em que o indivíduo se machuca por anos de modo discreto, porém crônico. Esse comportamento torna ainda mais difícil o diagnóstico. 

SAÚDE MENTAL ASSOCIADA

Frequentemente, os pacientes apresentam outras doenças psiquiátricas associadas, como TOC ou depressão, que devem ser reconhecidas e tratadas de modo concomitante. 

Lucas Lovato afirma ser comum os pacientes com skin picking procurarem dermatologistas antes do especialista em saúde mental, pois acreditam que seu problema é essencialmente dermatológico. 

O tratamento pode ser feito com medicamentos (antidepressivos, por exemplo) e psicoterapia. A técnica mais conhecida para a TE é chamada de Terapia de Reversão de Hábitos (TRH). Ela consiste em identificar os gatilhos e desenvolver estratégias para controlá-los. 

Se a escoriação ocorre quando a pessoa está sozinha em casa, por exemplo, a sugestão é reduzir esses momentos solitários. Blusas mais apertadas que dificultam o cutucar também são indicadas: a dificuldade leva o paciente a tomar consciência do ato e buscar formas de se controlar. 

Recentemente, novos protocolos sugerem associar a TRH às ferramentas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)mindfulness (técnica de atenção plena) ou terapia dialética. Segundo Lovato, essas outras estratégias enfrentam a condição de forma mais ampla, auxiliando na identificação das emoções negativas e nas distorções cognitivas que trazem angústia e favorecem o skin picking.

O transtorno costuma ocorrer de forma automática (nesse caso, os pacientes não identificam a tensão subjacente) ou focada (quanto há um sentimento negativo, tensão ou tédio identificável pelo indivíduo). De acordo com Lovato, identificar essas diferenças e especificidades dos sintomas ajuda na escolha das técnicas de psicoterapia que devem ter caráter individualizado.

“Se você se identifica com esses sintomas, busque avaliação e tratamento”, orienta Lovato. O psiquiatra faz ainda um apelo aos colegas: “Se você é profissional da saúde, lembre-se das perguntas que podem levar ao diagnóstico. Se é pesquisador, motive-se a estudar mais sobre esse assunto”. 

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