21.02.2022 Outras Patologias

‘Enquanto ela não saiu da zona de risco de morte, não tive paz’, relata mãe de menina que tem Doença de Pompe

Michely Cavaler, de 36 anos, perdeu a filha do meio aos sete meses de vida, sem saber ao certo o motivo. “Foi em 2012. Eu soube apenas que ela tinha um problema cardíaco grave”, lembra.


Quatro anos depois, Michely deu à luz Ana e, com 30 dias, começou a perceber cansaço, hipotonia, ou seja, um tônus muscular enfraquecido na pequena e, ao tomar banho, a criança ficava cianótica, com uma coloração azulada na pele, unhas, ao redor dos olhos e na boca. “Me preocupei e comecei a correr atrás até conseguir um exame de ecocardiograma, que na época foi uma briga por ser um exame caro, e a Secretaria de Saúde de Santa Terezinha, onde eu morava, ao lado de Foz do Iguaçu, não queria me ceder”, afirma.


Dois meses depois, ela conseguiu atendimento para a filha. “Foi aí que descobrimos o mesmo problema cardíaco da irmã dela. Conhecemos a doutora Mara Lúcia, neuropediatra, especialista em doenças raras e erros inatos do metabolismo! Através de sua experiência, depois de ser avaliada pela junta médica, a doutora pediu exame de papel filtro, constatando então a notícia sobre a Doença de Pompe com 90 dias”.


Ao receber o diagnóstico da doença rara da filha, o mundo de Michely nunca mais foi o mesmo. Sobretudo ao ouvir da médica que a pequena teria apenas 1% de chance de sobreviver. “Quando recebi a notícia que era o mesmo problema que a outra, meu chão se abriu e eu caí num buraco escuro e frio! Sabendo desse 1% apenas, eu não dormia mais, não comia mais, com medo de perder o tempo todo! Ela dormia agarrada em mim o tempo todo para que eu sentisse seu coração bater! Foi assustador! Enquanto ela não saiu da zona de risco de morte, eu não tive paz! Lutei pra chegarmos até aqui, e luto até hoje para que ela tenha qualidade de vida”, desabafa.



A Doença de Pompe ou glicogenose tipo II é uma doença hereditária rara que pode se manifestar em qualquer fase da vida. Um defeito em uma enzima que provoca o acúmulo de açúcar nos músculos é capaz de causar fraqueza muscular, insuficiência respiratória e diversos outros sintomas.


No Brasil, estima-se que haja cerca de 2,5 mil pessoas com Doença de Pompe. Em todo o mundo, entre 5 mil e 10 mil pessoas. O diagnóstico precoce pode ajudar no tratamento e pode ser decisivo para garantir a sobrevivência.
Quando Michely descobriu a doença rara de Ana, o marido havia saído de casa: “Quase 1 ano depois, eu já tava aqui com ela, ele quis voltar. Voltamos, mas já tem 1 ano que resolvi me separar de uma vez. Passamos por situações difíceis, mas quem nunca me abandonou foi a minha mãe! Me considero pai e mãe dos meus filhos”.



Ana fez acompanhamento com fisioterapia assim que foi descartado o risco de morte. “Hoje ela faz natação, equoterapia, fono, psicólogo e tem auxílio pedagógico, e vai pra escola esse ano ainda! Acompanhamos com cárdio, pneumo, neuro, pediatra, alergista, geneticista, uma verdadeira equipe multidisciplinar”, comemora a mãe.
Sobre a filha nos dias de hoje, Michely descreve: “Ana é uma criança mega sociável, tem um cognitivo perfeito, inteligente, carinhosa, faz amigos fácil, e é muito amada por todos. Acredito que na escola ela terá um pouco de dificuldade motora devido à doença pra acompanhar as outras crianças, mas no aprendizado não! E a escola que ela frequenta super ajuda pra enturmar, ajudando sempre no que ela necessita”, conclui.


Principais sintomas para Doença de Pompe


De acordo com informações da Casa Hunter (https://casahunter.org.br/doencas-raras/doenca-pompe.php), os principais sintomas da doença de Pompe em bebês são: atraso nas etapas do desenvolvimento motor; falência respiratória com infecções frequentes; distúrbios do sono; dificuldade de deglutição e alimentação; organomegalia (aumento do fígado, baço e língua); cardiomegalia (aumento do coração) e consequente falência cardíaca.
Os principais sintomas em crianças e adultos são: dificuldade para correr, subir escadas e até mesmo caminhar dependendo do grau de evolução da doença; fadigas, mialgias (dor muscular) e quedas frequentes; escápula alada (quando a omoplata se projeta para trás devido à fraqueza ou atrofia muscular); alterações respiratórias com infecções de repetição e apnéia noturna (dificuldade para respirar durante o sono) levando a sonolência diurna e cefaléia matinal; dificuldade de mastigar e engolir alimentos.


Tratamento para Doença de Pompe


Somente em 2020, o Ministério da Saúde publicou o primeiro Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para Doença de Pompe. O PCDT foi elaborado após a incorporação, em outubro de 2019, do medicamento alfa-alglicosidase como opção terapêutica para doença genética rara.

No Brasil, em torno de 106 pacientes estão em tratamento e essa é a única opção farmacológica existente no mundo para tratar a doença, de acordo com o governo federal. Com recomendação favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), o PCDT orienta critérios para diagnóstico e monitoramento desses pacientes, além do tratamento medicamentoso e não medicamentoso. Saiba mais aqui.

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