27.02.2023 Osteoporose

Cuidado com os ossos é missão para a vida toda

Com o avançar da idade, os ossos vão se tornando mais frágeis. Mas isso não quer dizer que nada possa ser feito para garantir uma saúde óssea mais robusta ao longo dos anos e evitar ou conter a osteoporose – quando a fragilidade do esqueleto chega a um ponto preocupante, capaz de promover fraturas com quedas simples, por exemplo. 

Os especialistas apontam que, em média, o desenvolvimento mais importante da massa esquelética se dá até os 25 anos. Depois, vivemos um período de relativa estabilidade, sem ganhos nem perdas até em torno dos 40. 

Por volta da quarta década de vida, o processo se inverte – passa a haver uma perda contínua de massa óssea, cuja intensidade depende de diversos fatores, mas pode chegar a uma média de 1% ao ano. “Se você pensar que as pessoas estão vivendo mais, quem chega aos 80 ou 90 anos vai ter passado a maior parte da vida em uma situação de desvantagem”, estima o endocrinologista Francisco José de Paula, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).

Com um pouco menos de resistência óssea a cada ano que passa, ficamos mais propensos a fraturas. O que na juventude exigia um forte impacto para causar um dano sério, na velhice pode precisar de apenas uma queda – mais frequentes pela perda dos reflexos em função da idade – ou uma batida, dependendo de quão frágil está o esqueleto. Esse é o efeito da osteoporose.

O grande problema é que essas lesões não envolvem apenas o incômodo de passar um tempo com o braço ou a perna engessados (período que também se alonga conforme a idade passa, devido à dificuldade de regeneração). Infelizmente, algumas fraturas afetam muito a qualidade de vida, enquanto outras chegam a precipitar a morte. 

“Cerca de 20% das pessoas morrem no primeiro ano após uma fratura de quadril. E até 50% perdem autonomia”, alerta José de Paula.

Uma base para ossos mais fortes

Para melhorar suas perspectivas frente à osteoporose, antes vale prestar atenção nos fatores de risco. Mulheres, por exemplo, são naturalmente mais suscetíveis à doença, porque a redução do nível do hormônio estrogênio na menopausa prejudica os processos que formam e regeneram os ossos. Mas essa enfermidade também afeta os homens, claro. 

Alcoolismo, tabagismo ou o uso de alguns medicamentos também podem acelerar a perda de massa óssea. É o caso de pessoas com doenças crônicas que se valem de corticoides – anti-inflamatórios receitados no tratamento de alergias, asma, artrite e lúpus, por exemplo. 

Esses fármacos sabotam o equilíbrio entre a perda do tecido ósseo e o aparecimento de novas células para substituí-lo. Como se não bastasse, eles podem reduzir a absorção de vitamina D e cálcio pelo intestino – duas substâncias fundamentais para o esqueleto. Não à toa, o uso prolongado de corticoides está associado à osteoporose. 

Quando bem prescritos, os benefícios dos corticoides tendem a compensar os riscos, mas vale discutir com o médico sobre como proteger os ossos dentro desse contexto.

A boa notícia é que, em geral, há maneiras de estimular a formação de ossos mais fortes e retardar essa piora natural que virá com a idade. E isso não apenas com remédios que ajudam na formação óssea ou que modulam o receptor de estrogênio, utilizados em fases mais avançadas da osteoporose. 

“Cada pessoa tem seu potencial genético para o ganho de massa óssea. Nós devemos utilizá-lo ao máximo desde os primeiros anos de vida”, entende José de Paula. 

Fugir do sedentarismo já na infância é um ponto central na hora de planejar um futuro com ossos mais fortes. “Os exercícios que mais ajudam a manter a massa óssea são aqueles que envolvem impacto e força”, recomenda José de Paula. Claro que não é necessário levar a criançada para a academia: brincadeiras ao ar livre, que vão de pular corda e escalar árvores, dão conta do recado. Valorizar as aulas de educação física é outra sacada importante. 

Conforme a criança envelhece, esportes e exercícios mais estruturados (que podem incluir a musculação) entram em cena. Uma conversa com o profissional de saúde é sempre uma boa.

Embora o ideal seja começar desde cedo – ainda na fase de formação da massa óssea, que vai até em torno dos 25 anos –, todas as idades se beneficiam da atividade física. Nos mais velhos, ela pelo menos atenua a perda de óssea e estimula a coordenação,  o que evita quedas. Só é bom buscar orientação para o tiro não sair pela culatra. 

Comer bem é outra peça-chave na prevenção e no controle da osteoporose. Isso significa variar o prato e atingir quantidades recomendadas de proteína, cálcio e vitamina D.

“São armas que temos para esticar o período de estabilidade óssea e para diminuir a taxa de perda após os 40 anos”, explica José de Paula.

Os exames

A osteoporose é, muitas vezes, silenciosa. Seu primeiro sintoma pode ser uma fratura e a dor decorrente dela. 

Por isso, o ideal é fazer exames periódicos a partir da faixa etária em que a perda óssea é considerada mais acentuada. Feito o diagnóstico, o médico consegue fazer ajustes no estilo de vida ou receitar medicamentos que freiam o agravamento da situação.

Em geral, os exames devem ser feitos regularmente por mulheres a partir dos 65 anos e por homens dos 70 em diante, com frequência a ser determinada a partir do histórico e da condição óssea. 

A avaliação envolve exames como a densitometria, que determina a massa óssea em diferentes regiões do corpo (coluna, fêmur, antebraço) a partir de um aparelho de raio-X. 

Algumas pessoas com fatores de risco, porém, devem começar a fazer essas visitas periódicas ao médico mais cedo na vida. De novo, atenção especial deve ser dada para fumantes, pessoas que consomem muito álcool, usuários de corticoides e mulheres na menopausa. 

Além deles, há indivíduos com doenças que comprometem a absorção no intestino de nutrientes que formam os ossos. Nesse contexto, a recomendação de avaliações mais pormenorizadas pode vir a partir dos 50 anos, ou até antes.

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