17.03.2023 Doenças de Pele

Quem tem doenças crônicas de pele pode fazer tatuagens?

Pessoas com psoríase, dermatite atópica e alergias de pele são mais suscetíveis a desenvolver lesões, mas não estão proibidas de fazer tatuagens

No Brasil, a indústria de tatuagem cresceu 25% em 2021, de acordo com o Sebrae. Quem tem problemas de pele, no entanto, precisa tomar precauções antes de entrar nessa onda. 

Um exemplo de condição que requer cuidado é a psoríase. As lesões avermelhadas da doença autoimune, que atinge cerca de 1,3% da população brasileira conforme a Sociedade Brasileira de Dermatologia, podem aparecer em cima da área tatuada e cobrir o desenho enquanto a lesão estiver ativa. 

Isso acontece por causa do chamado fenômeno de Koebner, que provoca o surgimento de lesões, após algum ferimento, iguais às da doença cutânea que o paciente apresentava. E, sim, isso ocorre em locais onde a pessoa nunca tinha desenvolvido os eczemas da psoríase antes.

Fenômeno de Koebner

Um artigo de 2013 sugere que cerca de um quarto das pessoas com psoríase experimentarão o aparecimento de novas placas e feridas após uma lesão na pele não provocada pela doença. Os furinhos causados pela agulha que introduz a tinta das tatuagens podem dar início ao fenômeno – embora seja impossível prever quem vai experimentar o fenômeno de Koebner e quem vai escapar dele. A boa notícia é que trata-se de uma mudança temporária, geralmente resolvida com tratamentos adequados para a condição. Ou seja, o mais importante é dialogar com profissionais de saúde e manter um acompanhamento próximo, se for o caso. 

Já quem tem dermatite atópica (DA) não pode se tatuar em cima de áreas lesionadas e deve evitar partes do corpo normalmente acometidas pela doença. Os locais onde costumam aparecer as feridas variam de pessoa para pessoa, mas é comum nas dobras dos braços e na parte de trás dos joelhos.

A recomendação de não fazer tatuagens em cima de lesões, aliás, vale para qualquer problema de pele que deixe feridas, afirma a dermatologista Analupe Webber, secretária geral da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio Grande do Sul (SBD-RS). 

No caso da psoríase, por exemplo, é impossível tatuar um local com eczemas causados pelo acúmulo de células da pele. Além disso, de acordo com a médica, tatuar em cima de lesões ativas pode aumentar o risco de contrair infecções.

Essa discussão é especialmente pertinente, porque as lesões da dermatite atópica, por exemplo, podem deixar cicatrizes, o que leva algumas pessoas a tentar cobri-las com tatuagens da cor da própria pele. “Não é uma boa técnica de cobertura”, alerta Webber. “Dificilmente a tinta vai ficar da mesma cor da pele”.

Reação alérgica?

Tatuagens no geral podem se tornar um problema para quem tem tendência a alergias cutâneas. Como a pele desses indivíduos é mais sensível, são grandes as chances de uma reação à tinta. “Para quem tem alergias no geral, a tatuagem é contraindicada. As reações a tatuagens podem ser temporárias, ocasionais ou se tornarem crônicas”, explica a especialista. A DA, cabe lembrar, é considerada uma alergia.

Se mesmo assim a vontade de se tatuar for grande, a dica é dar preferência à tinta preta, que causa menos irritação. A tinta vermelha, no extremo oposto, é a que mais provoca reações alérgicas. Acredita-se que isso ocorra devido ao uso dos chamados corantes azoicos na composição de tintas dessa cor. Além de menos alérgica, a tinta preta é mais fácil de ser removida caso a pessoa decida tirar a tatuagem em algum momento. 

Por falar em remoção, Webber alerta que o único método com evidência científica de segurança é o tratamento a laser. “Mas é preciso ter cuidado com o tipo. Há um laser específico para remoção de tatuagem”, ressalta a dermatologista.  Mesmo sendo o mais indicado, esse método de remoção também pode causar lesões, especialmente em quem tem psoríase. 

Outro fator a se observar é a tendência a desenvolver queloides, um processo de cicatrização irregular que ocasiona um crescimento anormal do tecido lesionado. “Se a pessoa tem essa tendência, a tatuagem pode deixar cicatriz permanente”, pondera a médica. 

É importante também evitar que as tattoos cubram pintas e sinais na pele, impedindo que o dermatologista avalie o crescimento delas – o risco é esconder um sinal e atrasar um diagnóstico de câncer.

Qualquer pessoa – com problemas de pele pré-existentes ou não – pode ter infecções se o profissional não se atentar à biossegurança na hora da tatuagem. Por isso, a dica é prestar atenção nos detalhes antes de escolher o tatuador: ele ou ela deve usar luvas e agulhas descartáveis, e o local precisa adotar regras de higiene.

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