Uma esperança para o Alzheimer
O lecanemab se mostrou eficaz na ‘limpeza’ da proteína beta-amilóide acumulada no cérebro e associada à doença de Alzheimer, além da melhora de algumas funções cognitivas como a memória e o raciocínio. Esse é um estudo de fase III que tem como objetivo mostrar a eficácia e segurança do medicamento, no entanto, o médico geriatra e Diretor Científico do Instituto Parentalidade Prateada, Dr. Otávio Castello, alerta para uma comemoração cautelosa.
“Embora o estudo tenha apontado uma eficácia muito interessante em pacientes com DA em fase inicial, também apontou uma quantidade grande de efeitos colaterais, sendo alguns de potencial gravidade. É um passo muito importante em direção a um tratamento no futuro, mas os pesquisadores concluíram que mais estudos serão necessários para garantir eficácia e segurança” afirma Otávio.
SOBRE A PESQUISA
Os resultados foram apresentados em uma conferência em São Francisco, EUA, com foco em estudos clínicos voltados à doença de Alzheimer. De acordo com a Dra. Arianna Almirall Sanchez, médica especializada em bioestatística e uma bolsista do programa para equidade em saúde cerebral do Global Brain Health Institute, embora o resultado seja estatisticamente significativo, isso não significa que seja clinicamente significativo. “A partir dos dados divulgados ainda não se pode afirmar com segurança se os pacientes vão notar a diferença com o uso da medicação, ou seja, que o benefício seria clinicamente perceptivo.”
Importante destacar que estes resultados, embora embrionários, são inéditos! Nenhum outro comprovou eficácia na redução da doença no cérebro e no retardo do declínio de nossas habilidades cognitivas. Otávio e Arianna concordam com o fato do lecanemab abrir uma porta importante na busca por um tratamento modificador da DA, aumentando investimento em pesquisa em um campo ainda pouco explorado se comparado a outros. No entanto, a maior parte dos pacientes no Brasil recebe o diagnóstico em uma fase mais avançada da doença, não colhendo os benefícios apontados pelo estudo.
“Além disso, essas terapias de anticorpos são caras e, portanto, estão longe da possibilidade de muitos países como o Brasil ou Cuba. Os efeitos colaterais exigem um extenso monitoramento para verificar inchaço cerebral e hemorragias, por exemplo, e nossos países não contam com a infraestrutura necessária para acompanhar essa grande mudança nos tratamentos para Alzheimer” afirma a médica de origem cubana.
Esse não é um problema do brasileiro, e sim de países de baixa e média renda com menos ferramentas diagnósticas e mais influência do estigma, como é o caso de países da América Latina e África. É hora de comemorar, mas também de investir e intensificar esforços em conscientização da população, capacitação da rede e atualização das ferramentas diagnósticas, só assim vamos conseguir acompanhar os futuros benefícios de uma nova droga como o lecanemab na realidade brasileira.